9 October 2009
Precisamos de um herói
7 October 2009
Um Ig Nobel
continua
Sobre os IG NOBEL (de verdade que garante umas boas gargalhadas e é investigação de verdade!)
Antropoceno sem anthropos
Um grupo de 29 cientistas liderados por Johan Rockström (Stockholm Resilience Centre) publicaram recentemente um artigo na revista Nature no qual definem nove limites fisicos para o planeta Terra que a humanidade não deve transgredir. Ultrapassar qualquer um destes limites pode causar uma instabilidade abrupta nos sistemas essenciais de suporte da vida. Passaremos do período holoceno (que teoricamente seria estável durante mais meia dúzia de milhares de anos) para o antropoceno (o período em que a Terra lidará com as alterações drásticas e profundas que o homem gerou na biosfera). A designação "antropoceno" é, no mínimo, paradoxal pois as alterações que se esperam questionam gravemente a viabilidade das próprias sociedades humanas. Um antropoceno sem anthropos.Imagem de The World Without Us
6 October 2009
O mundo um bocadinho ao contrário...
Tenho observado e ouvido os rituais de acolhimento que os nossos alunos seniores prestam aos “caloiros”. Tenho dúvidas sérias que a praxe seja um elemento de integração e acho que ainda por cima são dados maus exemplos: nas últimas semanas, desde o nosso gabinete assistiu-se aos “doutores” a deitar o lixo no chão, a fazer peões com os carros no parque de estacionamento, a colocar música altíssima estilo “tunning”, a proferir diversos insultos aos berros, enquanto decorre a praxe.
Entendo ainda que as práticas da praxe reproduzem relações de domínio sobre os outros deveriam deixar de ser representadas, nem que seja a brincar.
E com todo o respeito queria partilhar uma frase recente do ministro Mariano Gago: "A degradação física e psicológica dos mais novos como rito de iniciação é uma afronta aos valores da própria educação e à razão de ser das instituições de ensino superior e deve pois ser eficazmente combatida por todos, estudantes, professores e, muito especialmente, pelos próprios responsáveis das instituições"
Mariano Gago, Ministro do Ensino Superior (em http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1342312 )
Em tempos, esta instituição teve uma postura clara a respeito da praxe. Neste momento não sei se tem… mas deixo aqui a minha sugestão para que o faça.
Resposta (ipsis verbis) da direcção da dita cuja faculdade:
Uma vez que parece ser uma autoridade no assunto e conhecer profundamente a “postura institucional clara a respeito da praxe” que a instituição teve em tempos, peço que me esclareça a este respeito. De certeza que beneficiaremos todos com o seu conhecimento.
Já agora, informo que nós também lemos jornais.
Assim vai o mundo.
5 October 2009
Because WE HAVE TO?
"The mission of the movement is the application of the scientific method for social change."
Ao que parece concretiza-se attravés de um projecto concreto www.thevenusproject.com
E=mc2
As Cinco na Mata do Buçaco
Chegadas à Mata do Buçaco começou o desafio. Mapas turísticos que eram verdadeiros mapas do tesouro, daqueles aos quais falta uma parte, milhões de bolotas a concorrer pela nossa atenção. Eu e a Maceda pareciamos dois esquilos daqueles do filme "Idade do Gelo", a encher os bolsos de bolotas, ora grandes, ora pequenas, ora cor de mel, ora escuras como o chocolate...
Percebemos também que a Mata foi a casa da Ordem dos Carmelitas Descalços (entre 1628 e 1834), que aí criaram um "deserto" (onde os monges eram obrigados a plantar árvores), uma via sacra e os passos da Paixão de Cristo, onze ermidas, capelas e o Convento de Santa Cruz (onde está actualmente um palacete de estilo neomanuelino que aloja o Hotel do Buçaco).
Apesar da falta de intencionalidade dos Carmelitas Descalços, é graças a eles que existe a Mata do Buçaco, Monumento Nacional desde 1943, que tem no seu interior 700 espécies de árvores exóticas e indígenas e é classificada pelos botânicos como uma das melhores e mais majestosas colecções dendrológicas da Europa. É muito conhecida pelo cedro-do-buçaco (Cupressus lusitanica). Convém dizer que os religiosos viam no cedro uma árvore sagrada.
Em 1834, data da extinção das ordens religiosas em Portugal, a Mata passou a ser gerida pelo Estado.
Falta referir, mais para me ajudar a lembrar a mim, do que para fazer folhetim de história, que em 1810, lutou-se aqui para combater as tropas de Napoleão Bonaparte.
Toledo: alguns passos pela cidade
El Entierro del Senõr de Orgaz
Domenikos Theotokopoulos (El Greco) pintou este quadro entre 1586-1588 para representar o milagre supostamente ocorrido quando o corpo do Senhor de Orgaz foi transladado para a igreja de S. Tomé em Toledo em 1327. O quadro de estilo manieirista está desde essa data num nicho da igreja de S. Tomé. É uma obra espectacular pela resolução de algumas imagens, pela luz, pela dupla representação da vida terrena e celestial... Impressionou-me particularmente o excelente estado de conservação e o anjo no centro do quadro (tem um corpo marcadamente masculino da cintura para cima e feminino da cintura para baixo...não li sobre isto em lado nenhum. Estarei eu a inventar?).Militantes da impossibilidade
Há uns dias o JL enviou-me este artigo do jornal La Vanguardia entitulado o "Mistério português". Começa assim "Portugal transmite una suave impresión de caos, parecida a la que uno siente en una tienda de antigüedades".O autor - Gabriel Magalhães - toca vários aspectos que bem caracterizam a nossa cultura portuguesa, tão distinta da nos nossos vizinhos espanhóis. Estamos sempre em viagem, sempre em busca do que está mais além. Cultivamos a distância, mesmo no nosso quotidiano. Por exemplo, não somos gente a quem lhe goste conviver na rua e mantemos as distâncias, fisicamente e verbalmente. Somos um país que tem mentalidade de rico, apesar de não o ser assim tanto. Temos manias de ser um tanto ou quanto aristocrátas, tendo substituído os titulos nobiliários pelos académicos. E somos, escreve Gabriel Magalhães, um pouco barrocos: gostamos dos detalhes mas não a estrutura. Temos, além disso, uma obsessão de ser semelhantes aos grandes países ocidentais e, por isso, temos pouco orgulho nacional e damos demasiado valor ao estrangeiro.
Gabriel Magalhães prosegue com explicações sobre a nossa história (génese, expansão, império colonial, decadência desde o século XVIII...) e conclui que Portugal é um país inviável, sustentando-se em Fernando Pessoa e na sua Mensagem: "O português é um militante da impossibilidade. Da sua impossibilidade".
Acho a frase de Pessoa mais do que ilustrativa. Somos efectivamente o exemplo de como é possível avançar mesmo quando tudo está aparentemente a desfavor. Dois exemplos: mantivemos heroicamente um território independente quando nem os mais nacionalistas territórios da peninsula ibérica conseguiram fazê-lo; tivémos que nos lançar ao mar para contrariar o acantonamento a que estavamos destinados e com isso criamos o esquiço da actual globalização, afirmando simultaneamente o português como o quinto idioma mais falado em todo o mundo...
E o curioso é que mesmo que não saibamos muito bem porque avançamos - e muito menos o entendem os supostos estrategas e analistas do mundo - vamos sabendo por onde trilhar caminho...
Diz-se que hoje somos apenas a sombra de um império que Portugal já foi, no qual o dinheiro era tanto que não se contava, pesava-se. Como resultado estamos, por assim dizer, "como peixe dento de água" na actual conjuntura económica.
Talvez a Europa possa aprender algo connosco. Robert Fogel, historiador e prémio nóbel da economia, escreve que no ano 2000 a Europa albergava 6% da população e abarcava 20% da economia mundial. Em 2040, a Europa contabilizará 4% da população e 5% da economia mundial. Creio que não é necessário dizer nada mais.
E estou de acordo com Gabriel Magalhães. Esta constante e cansativa luta pela possibilidade de Portugal deu-nos uma enorme capacidade de inventar e de reinventar-nos a todo o momento.