9 October 2009

Precisamos de um herói



Excerto de um discurso que fez aos alunos no início do ano escolar: "...nem os professores e os pais mais dedicados, nem as melhores escolas do mundo são capazes do que quer que seja se vocês não assumirem as vossas responsabilidades. (...) Todos vocês são bons em alguma coisa. Não há nenhum que não tenha alguma coisa a dar. E é a vocês que cabe descobrir do que se trata. É essa oportunidade que a educação vos proporciona. Talvez tenham a capacidade de ser bons escritores - suficientemente bons para escreverem livros ou artigos para jornais -, mas se não fizerem o trabalho de Inglês podem nunca vir a sabê-lo. Talvez sejam pessoas inovadoras ou inventores - quem sabe capazes de criar o próximo iPhone ou um novo medicamento ou vacina -, mas se não fizerem o projecto de Ciências podem não vir a percebê-lo. Talvez possam vir a ser mayors ou senadores, ou juízes do Supremo Tribunal, mas se não participarem nos debates dos clubes da vossa escola podem nunca vir a sabê-lo. (...) No entanto, escolham o que escolherem fazer com a vossa vida, garanto-vos que não será possível a não ser que estudem. (...) O que vocês fizerem com os vossos estudos vai decidir nada mais nada menos que o futuro do nosso país. Aquilo que aprenderem na escola agora vai decidir se enquanto país estaremos à altura dos desafios do futuro. ..."

7 October 2009

Um Ig Nobel

Stephan Bolliger y sus colegas de la Universidad de Berna experimentaron si un botellazo en la cabeza es más contundente con el envase lleno o vacío. Publicaron el estudio en el diario de medicina legal y forense de su demarcación y ha merecido el Ig Nobel de la Paz 2009, que recogió el propio Bolliger. Los Ig Nobel (pronunciado igual que ignoble) datan de 1991 pero no tienen el mismo empaque, retribución ni fama que los de patente sueca. A medio camino entre la parodia y la investigación, también son evaluados por un comité científico. La relación de galardonados de este año fue proclamada el sábado en el Instituto Tecnológico de Massachusetts, en el corazón de Harvard. El innoble de Economía fue para los directores, ejecutivos y auditores de cuatro grandes bancos islandeses, por demostrar que pequeñas entidades pueden transformarse rápidamente en imperios financieros y viceversa. El mismo principio fue validado para la economía del país. Ningún agraciado acudió a la entrega. El de Matemáticas ha sido para Gideon Gono, gobernador del Zimbabwe's Reserve Bank (la denominación en inglés evita malentendidos), por estimular a la población de forma simple y diaria en el manejo de números, gracias a una gama de billetes cuyos valores oscilan entre un céntimo de dólar y cien trillones...
continua

Sobre os IG NOBEL (de verdade que garante umas boas gargalhadas e é investigação de verdade!)

Antropoceno sem anthropos

Um grupo de 29 cientistas liderados por Johan Rockström (Stockholm Resilience Centre) publicaram recentemente um artigo na revista Nature no qual definem nove limites fisicos para o planeta Terra que a humanidade não deve transgredir. Ultrapassar qualquer um destes limites pode causar uma instabilidade abrupta nos sistemas essenciais de suporte da vida. Passaremos do período holoceno (que teoricamente seria estável durante mais meia dúzia de milhares de anos) para o antropoceno (o período em que a Terra lidará com as alterações drásticas e profundas que o homem gerou na biosfera). A designação "antropoceno" é, no mínimo, paradoxal pois as alterações que se esperam questionam gravemente a viabilidade das próprias sociedades humanas. Um antropoceno sem anthropos.

Imagem de The World Without Us

6 October 2009

O mundo um bocadinho ao contrário...

Excertos de um mail remetido por uma pessoa atenta aos actos praxistas a uma direcção de uma determinada faculdade:
Tenho observado e ouvido os rituais de acolhimento que os nossos alunos seniores prestam aos “caloiros”. Tenho dúvidas sérias que a praxe seja um elemento de integração e acho que ainda por cima são dados maus exemplos: nas últimas semanas, desde o nosso gabinete assistiu-se aos “doutores” a deitar o lixo no chão, a fazer peões com os carros no parque de estacionamento, a colocar música altíssima estilo “tunning”, a proferir diversos insultos aos berros, enquanto decorre a praxe.
Entendo ainda que as práticas da praxe reproduzem relações de domínio sobre os outros deveriam deixar de ser representadas, nem que seja a brincar.
E com todo o respeito queria partilhar uma frase recente do ministro Mariano Gago: "A degradação física e psicológica dos mais novos como rito de iniciação é uma afronta aos valores da própria educação e à razão de ser das instituições de ensino superior e deve pois ser eficazmente combatida por todos, estudantes, professores e, muito especialmente, pelos próprios responsáveis das instituições"
Mariano Gago, Ministro do Ensino Superior (em
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1342312 )
Em tempos, esta instituição teve uma postura clara a respeito da praxe. Neste momento não sei se tem… mas deixo aqui a minha sugestão para que o faça.


Resposta (ipsis verbis) da direcção da dita cuja faculdade:
Uma vez que parece ser uma autoridade no assunto e conhecer profundamente a “postura institucional clara a respeito da praxe” que a instituição teve em tempos, peço que me esclareça a este respeito. De certeza que beneficiaremos todos com o seu conhecimento.
Já agora, informo que nós também lemos jornais.


Assim vai o mundo.

5 October 2009

Because WE HAVE TO?

Alguém conhece isto? Movimento Zeitgeist

"The mission of the movement is the application of the scientific method for social change."

Ao que parece concretiza-se attravés de um projecto concreto www.thevenusproject.com

E=mc2

Será a energia uma entidade igual à massa e não distinta como se acredita? Será que não existem efectivamente duas entidades distintas - massa e energia - mas somente uma? Será que Einstein somente escreveu a receita para a quantidade de energia necessária para criar a aparência de massa? Afinal a massa é apenas energia? Que desafio é pensar que tudo no nosso mundo é apenas um conjunto de cargas eléctricas. Que nós próprios não somos entidades independentes dessa explicação. Que se influenciarmos essas cargas podemos causar uma reacção em cadeia...

As Cinco na Mata do Buçaco

26 e 27 de Setembro. Partida (agendada) para as 06h30. Trupe das 5 (exclui a bola de carne que quase constitui o 6º elemento). Viagem no heróico Bogas. Destino: Buçaco.

Chegadas à Mata do Buçaco começou o desafio. Mapas turísticos que eram verdadeiros mapas do tesouro, daqueles aos quais falta uma parte, milhões de bolotas a concorrer pela nossa atenção. Eu e a Maceda pareciamos dois esquilos daqueles do filme "Idade do Gelo", a encher os bolsos de bolotas, ora grandes, ora pequenas, ora cor de mel, ora escuras como o chocolate...

Percebemos também que a Mata foi a casa da Ordem dos Carmelitas Descalços (entre 1628 e 1834), que aí criaram um "deserto" (onde os monges eram obrigados a plantar árvores), uma via sacra e os passos da Paixão de Cristo, onze ermidas, capelas e o Convento de Santa Cruz (onde está actualmente um palacete de estilo neomanuelino que aloja o Hotel do Buçaco).

Apesar da falta de intencionalidade dos Carmelitas Descalços, é graças a eles que existe a Mata do Buçaco, Monumento Nacional desde 1943, que tem no seu interior 700 espécies de árvores exóticas e indígenas e é classificada pelos botânicos como uma das melhores e mais majestosas colecções dendrológicas da Europa. É muito conhecida pelo cedro-do-buçaco (Cupressus lusitanica). Convém dizer que os religiosos viam no cedro uma árvore sagrada.

Em 1834, data da extinção das ordens religiosas em Portugal, a Mata passou a ser gerida pelo Estado.

Falta referir, mais para me ajudar a lembrar a mim, do que para fazer folhetim de história, que em 1810, lutou-se aqui para combater as tropas de Napoleão Bonaparte.

Toledo: alguns passos pela cidade

Merece bem a pena esta cidade conhecida por ter sido capital da Espanha imperial (Carlos V) e que conserva a águia bicéfala do imperador no seu escudo. A muralha, as portas, as pontes, as igrejas, os conventos, a catedral, os delicados damasquinados, o delicioso mazapan...

Muita história se vê por toda a cidade amuralhada de Toledo e muita mais há ainda a ser descoberta. Destaca a actuação do Consórcio de Toledo que está a identificar, recuperar e trazer à luz um amplo património ainda desconhecido (mesquitas, termas romanas, banhos árabes, conventos, poços...). Destaca ainda a vista da cidade desde a Igreja dos Jesuítas e os mil e um pormenores que se podem apreciar, como o anjo gótico que está discretamente instalado na Rua do Anjo.


O Rio Tejo que enlaça o penhasco onde se implantou Toledo, infelizmente um rio triste e sujo.

Triste é também o facto de o Museu de Arte Contemporânea de Toledo, que ao que parece está fechado há mais de 5 anos, continuar a figurar nos mapas turísticos, levando o turista ao engano e desesperando os moradores e comerciantes do local, que têm que explicar várias vezes por dia que o Museu era para estar ali mas na verdade não está...


Merece a pena dormir no Hotel Pintor El Greco, mesmo ao lado da casa museu do pintor. Fica num edifício tipicamente toledano do século XVII, numa antiga padaria, que foi recuperado. Merece ainda uma visita o Mesón de la Orza, com pratos de caça e cozinha toledana cozinhados com enorme esmero e com produtos de qualidade.

El Entierro del Senõr de Orgaz

Domenikos Theotokopoulos (El Greco) pintou este quadro entre 1586-1588 para representar o milagre supostamente ocorrido quando o corpo do Senhor de Orgaz foi transladado para a igreja de S. Tomé em Toledo em 1327. O quadro de estilo manieirista está desde essa data num nicho da igreja de S. Tomé. É uma obra espectacular pela resolução de algumas imagens, pela luz, pela dupla representação da vida terrena e celestial... Impressionou-me particularmente o excelente estado de conservação e o anjo no centro do quadro (tem um corpo marcadamente masculino da cintura para cima e feminino da cintura para baixo...não li sobre isto em lado nenhum. Estarei eu a inventar?).

Militantes da impossibilidade

Há uns dias o JL enviou-me este artigo do jornal La Vanguardia entitulado o "Mistério português". Começa assim "Portugal transmite una suave impresión de caos, parecida a la que uno siente en una tienda de antigüedades".

O autor - Gabriel Magalhães - toca vários aspectos que bem caracterizam a nossa cultura portuguesa, tão distinta da nos nossos vizinhos espanhóis. Estamos sempre em viagem, sempre em busca do que está mais além. Cultivamos a distância, mesmo no nosso quotidiano. Por exemplo, não somos gente a quem lhe goste conviver na rua e mantemos as distâncias, fisicamente e verbalmente. Somos um país que tem mentalidade de rico, apesar de não o ser assim tanto. Temos manias de ser um tanto ou quanto aristocrátas, tendo substituído os titulos nobiliários pelos académicos. E somos, escreve Gabriel Magalhães, um pouco barrocos: gostamos dos detalhes mas não a estrutura. Temos, além disso, uma obsessão de ser semelhantes aos grandes países ocidentais e, por isso, temos pouco orgulho nacional e damos demasiado valor ao estrangeiro.

Gabriel Magalhães prosegue com explicações sobre a nossa história (génese, expansão, império colonial, decadência desde o século XVIII...) e conclui que Portugal é um país inviável, sustentando-se em Fernando Pessoa e na sua Mensagem: "O português é um militante da impossibilidade. Da sua impossibilidade".

Acho a frase de Pessoa mais do que ilustrativa. Somos efectivamente o exemplo de como é possível avançar mesmo quando tudo está aparentemente a desfavor. Dois exemplos: mantivemos heroicamente um território independente quando nem os mais nacionalistas territórios da peninsula ibérica conseguiram fazê-lo; tivémos que nos lançar ao mar para contrariar o acantonamento a que estavamos destinados e com isso criamos o esquiço da actual globalização, afirmando simultaneamente o português como o quinto idioma mais falado em todo o mundo...

E o curioso é que mesmo que não saibamos muito bem porque avançamos - e muito menos o entendem os supostos estrategas e analistas do mundo - vamos sabendo por onde trilhar caminho...

Diz-se que hoje somos apenas a sombra de um império que Portugal já foi, no qual o dinheiro era tanto que não se contava, pesava-se. Como resultado estamos, por assim dizer, "como peixe dento de água" na actual conjuntura económica.

Talvez a Europa possa aprender algo connosco. Robert Fogel, historiador e prémio nóbel da economia, escreve que no ano 2000 a Europa albergava 6% da população e abarcava 20% da economia mundial. Em 2040, a Europa contabilizará 4% da população e 5% da economia mundial. Creio que não é necessário dizer nada mais.

E estou de acordo com Gabriel Magalhães. Esta constante e cansativa luta pela possibilidade de Portugal deu-nos uma enorme capacidade de inventar e de reinventar-nos a todo o momento.
Acrescento ainda que nos deu a abertura, flexibilidade, modéstia e capacidades de improvisação e auto-critica que não sobejam em outros povos da Europa.

Estará Portugal, mais uma vez sem o planear, a traçar um novo esquiço do futuro da Europa e do mundo ocidental?

Por acaso hoje saiu no Público uma notícia sobre a baixa auto-estima dos portugueses.