No "Quinto Dia" da "Criação do Mundo", Miguel Torga expõe as sua reflexões sobre a viagem que tinha feito recentemente pela Espanha em plena guerra civil...
"Durante a viagem (...) apesar de horrorizado pela luta fraticida que o via travar, não me cansara de admirar a força afirmativa do povo espanhol, em todas as circunstâncias seguro da sua singularidade e grandeza. O mais humilde salamantino ou soriano, quando declarava a origem, como que atirava sobranceiramente um punhado de barro da meseta à cara do interlocutor. (...) O desgraçado lusíada, pelo contrário, sempre que se via forçado a nomear a terra de nascimento, tinha a sensação de que se denunciava. Impressionado há muito por essa marca do nosso carácter (...) cada vez se arraigava mais no meu espírito de que era preciso estar em graça para merecer certas pobrezas. (...) À semelhança do que acontecia na vida, que também nos é imposta e a que temos que dar sentido, assumindo-a, só num idêntico assenhoramento voluntário e corajoso do berço o poderíamos justificar. Mas só agora (...) via a dificuldade de atingir tal nobreza de alma. Muito poucos o conseguiam. De ai os ditirambos e os sarcasmos, lados do mesmo desespero."
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment