O autor - Gabriel Magalhães - toca vários aspectos que bem caracterizam a nossa cultura portuguesa, tão distinta da nos nossos vizinhos espanhóis. Estamos sempre em viagem, sempre em busca do que está mais além. Cultivamos a distância, mesmo no nosso quotidiano. Por exemplo, não somos gente a quem lhe goste conviver na rua e mantemos as distâncias, fisicamente e verbalmente. Somos um país que tem mentalidade de rico, apesar de não o ser assim tanto. Temos manias de ser um tanto ou quanto aristocrátas, tendo substituído os titulos nobiliários pelos académicos. E somos, escreve Gabriel Magalhães, um pouco barrocos: gostamos dos detalhes mas não a estrutura. Temos, além disso, uma obsessão de ser semelhantes aos grandes países ocidentais e, por isso, temos pouco orgulho nacional e damos demasiado valor ao estrangeiro.
Gabriel Magalhães prosegue com explicações sobre a nossa história (génese, expansão, império colonial, decadência desde o século XVIII...) e conclui que Portugal é um país inviável, sustentando-se em Fernando Pessoa e na sua Mensagem: "O português é um militante da impossibilidade. Da sua impossibilidade".
Acho a frase de Pessoa mais do que ilustrativa. Somos efectivamente o exemplo de como é possível avançar mesmo quando tudo está aparentemente a desfavor. Dois exemplos: mantivemos heroicamente um território independente quando nem os mais nacionalistas territórios da peninsula ibérica conseguiram fazê-lo; tivémos que nos lançar ao mar para contrariar o acantonamento a que estavamos destinados e com isso criamos o esquiço da actual globalização, afirmando simultaneamente o português como o quinto idioma mais falado em todo o mundo...
E o curioso é que mesmo que não saibamos muito bem porque avançamos - e muito menos o entendem os supostos estrategas e analistas do mundo - vamos sabendo por onde trilhar caminho...
Diz-se que hoje somos apenas a sombra de um império que Portugal já foi, no qual o dinheiro era tanto que não se contava, pesava-se. Como resultado estamos, por assim dizer, "como peixe dento de água" na actual conjuntura económica.
Talvez a Europa possa aprender algo connosco. Robert Fogel, historiador e prémio nóbel da economia, escreve que no ano 2000 a Europa albergava 6% da população e abarcava 20% da economia mundial. Em 2040, a Europa contabilizará 4% da população e 5% da economia mundial. Creio que não é necessário dizer nada mais.
E estou de acordo com Gabriel Magalhães. Esta constante e cansativa luta pela possibilidade de Portugal deu-nos uma enorme capacidade de inventar e de reinventar-nos a todo o momento.
Acrescento ainda que nos deu a abertura, flexibilidade, modéstia e capacidades de improvisação e auto-critica que não sobejam em outros povos da Europa.
Estará Portugal, mais uma vez sem o planear, a traçar um novo esquiço do futuro da Europa e do mundo ocidental?
Por acaso hoje saiu no Público uma notícia sobre a baixa auto-estima dos portugueses.
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