19 January 2007

A pesada digestão do filme Babel

Eu não vi os anteriores filmes do mexicano Alejandro González Iñarritu por já saber que são de tirar a respiração do início ao fim. Mas depois do que tinha lido sobre Babel não podia deixar de o ver. E fiquei sem ar do início ao fim. E estou a digerir as ideias do filme desde então...

O filme é impressionante desde logo pelas quatro histórias narradas, tão aparentemente dispares e, no fundo, tão bem cozidas com um fio cheio de sentido. Esse fio condutor das histórias parece ser o medo de perder aqueles que amamos. O casal americano que viaja a Marrocos para tentar recuperar a perda recente de um filho. A ama mexicana que embarca numa insensata viajem ao México com as duas crianças americanas para ir ao casamento de um filho. O pai marroquino que dá aos filhos adolescentes uma arma de fogo para defenderem o seu sustento (as cabras) dos chacais, e que acaba por ter outras consequências. O pai japonês que lida com uma filha adolescente descontrolada pela perda da mãe. Mas as relações entre as quatro histórias não ficam por aqui.

O filme explora ainda os contrastes de culturas, os limites da humanidade e os preconceitos.
Uns têm tudo o que é material mas estão vazios por dentro (como o pai e filha no Japão) e outros sem nada mas cuja vida faz sentido para si (a família marroquina).
Os americanos são (criticamente) mostrados como eternas vitimas dos terroristas. Os mexicanos como delinquentes. Os islâmicos como terroristas. Os japoneses como alheados e infelizes.

E no fim, como dizia Javier Cercas na EPS, tudo é como é: "os pobres perdem sempre enquanto os ricos só perdem quando tudo está perdido". E isso é difícil de digerir.

3 comments:

Ana Albuquerque Barata said...

Já vi o filme.
É de cortar a respiração de tão lindo que é.
E de tão próximas de nós que são as culturas mexicanas e marroquinas.
Aquela caçadeira nas mãos dos meninos e aquele casamento (com a viagem de ida e regresso) são coisas que me lembro de um passado bem recente em POrtugal (será ainda assim, o presente?)
E a perda de um filho, que me dói todos os dias (acho que nunca vai passar). E a perspectiva de perder os outros.
Vi todo o filme com o coração tão apertado, mas tão apertado, como já não imaginava.

TOR2 said...

é um filme que quero ir ver... mas se é assim tão "pesado"... acho que vou esperar por uma altura melhor para ir ver.

m:p said...

Alexandra, como diz a Ana, o filme é muito bonito. É pesado, é certo, não nos deixa indiferentes. E isso é bom. Acho...
bjinhos