Há pouco tempo escrevia um cronista do El País que é misteriosa a forma como ao longo do tempo vamos perdendo o contacto e o hábito de estar com alguns amigos, em particular com grupos de amigos. Razões: diferendos? decepções? Às vezes não há razões aparentes para o afastamento dos amigos. Simplesmente acontece...
Não sei se é assim tão simples. O que sei é que por vezes ainda ecoam na minha cabeça os animados encontros, jantares, passeios com amigos que agora estão longe (e não me refiro só a distância geográfica). Na verdade, não me lembro quando nem porquê nos afastamos... embora consiga sugerir uma data e uma razão. Definitivamente ainda não aprendi a viver com isto.
29 November 2006
27 November 2006
A cidade cinzenta lavou a cara
A capital económica do país basco, Bilbo (em Basco) está dividida pelo estuário do Nervión. Por isso se chamará Bilbo porque"bi albo" significa "dos dois lados" em basco.
Esta cidade que ainda carrega a pesada carga de ser denominada de "cinzenta e industrial" parece estar a sofrer uma metamorfose. Com o declínio industrial aprendeu a diversificar as suas actividades e está a lavar a sua cara com a ajuda de arquitectos famosos como Frank O. Gehry (Museu G.) , Norman Foster (Metro), Santiago Calatrava (Ponte Pedonal Zubizuri) e Arata Isozaki (Torres gémeas... sim é mesmo assim...)
A zona ao lado do estuário é pedonal, pelo menos no centro, é fácil atravessar a pé para o outro lado através de pontes pedonais e mistas. Há um metro de superfície que une os principais pontos... A cidade surpreendeu-me muito positivamente.
(na foto "Puppy" de Jeff Koons, o cão de guarda do Museu Guggenheim)
Esta cidade que ainda carrega a pesada carga de ser denominada de "cinzenta e industrial" parece estar a sofrer uma metamorfose. Com o declínio industrial aprendeu a diversificar as suas actividades e está a lavar a sua cara com a ajuda de arquitectos famosos como Frank O. Gehry (Museu G.) , Norman Foster (Metro), Santiago Calatrava (Ponte Pedonal Zubizuri) e Arata Isozaki (Torres gémeas... sim é mesmo assim...)
A zona ao lado do estuário é pedonal, pelo menos no centro, é fácil atravessar a pé para o outro lado através de pontes pedonais e mistas. Há um metro de superfície que une os principais pontos... A cidade surpreendeu-me muito positivamente.
(na foto "Puppy" de Jeff Koons, o cão de guarda do Museu Guggenheim)
Museu Guggenheim Bilbau comemora 10 anos em 2007
Este belíssimo museu de Frank O. Gehry, que ajudou Bilbau a transformar-se, vai fazer 10 anos no próximo ano. Para comemorar essa data o Museu encomendou um projecto de intervenção artística para a Ponte de La Salve, uma das principais entradas de veículos na cidade, e que passa literalmente ao lado do Guggenheim.
Ao convite do Museu responderam três artistas, cujos projectos podem ser vistos e votados pelos visitantes do Museu até esta semana. Para quem quiser conhecer os projectos:
http://www.guggenheim-bilbao.es/caste/exposiciones/permanente/la_salve/la_salve.htm
Ao convite do Museu responderam três artistas, cujos projectos podem ser vistos e votados pelos visitantes do Museu até esta semana. Para quem quiser conhecer os projectos:
http://www.guggenheim-bilbao.es/caste/exposiciones/permanente/la_salve/la_salve.htm
Ponte Pênsil da Bizkaia já deu 31 voltas ao mundo
A Ponte Pênsil da Bizkaia une os dois lados do estuário do Nérvion, já muito perto do grande Porto de Bilbau. Getxo e Portugalete são as duas comunidades que podem trocar pessoas, veículos e mercadorias através desta estranha ponte cuja estrutura nos faz lembrar a ponte D. Luís ou a Torre Eiffel. António Palácios foi o arquitecto e a ponte foi inaugurada em 1893.
As pessoas e carga são transportadas como se viajassem num teleférico numa estrutura que se chama "barquilla". Até ao momento já transportou mais de 650 milhões de pessoas e apesar da pequena distância que separa Portugalete y Getxo a pequena "barquilha" já viajou uma distância equivalente a 31 voltas à Terra. Pelo menos é o que se diz por lá...
Por ser a ponte desta natureza mais antiga do mundo e ser claramente engenhosa foi declarada Património da Humanidade em Julho de 2006.
As pessoas e carga são transportadas como se viajassem num teleférico numa estrutura que se chama "barquilla". Até ao momento já transportou mais de 650 milhões de pessoas e apesar da pequena distância que separa Portugalete y Getxo a pequena "barquilha" já viajou uma distância equivalente a 31 voltas à Terra. Pelo menos é o que se diz por lá...
Por ser a ponte desta natureza mais antiga do mundo e ser claramente engenhosa foi declarada Património da Humanidade em Julho de 2006.
100% ÁFRICA no Guggenheim de Bilbau até Fevereiro
O beijo da pulga ou kukuxumusu
O inteligente projecto, mais conhecido pela divertida e impronunciável (à primeira!) palavra KUKUXUMUSU, nasceu em Iruñea (Pamplona) em 1989 pelas mão de Mikel Urmeneta e mais dois amigos. Hoje em dia tem mais de 20 lojas em toda a Espanha e continua a viver do bom humor que caracterizou a sua "eclosão"...
www.kukuxumusu.com
www.kukuxumusu.com
22 November 2006
Uma portuguesa em Espanha reflecte sobre "As reflexões de um espanhol em Portugal"
Ando a ler um livro chamado "Reflexões de um espanhol em Portugal" (Federico González) que, não sendo de todo um livro que eu possa chamar sequer de "interessante", traz a lume algumas das principais diferenças culturais e mesmo estruturais entre Portugal e Espanha...
Por exemplo, logo nos primeiros capítulos apresenta dados que explicam porque é que Portugal está actualmente atrás da Espanha em termos de desenvolvimento económico.
Segundo o González, e suportado por algumas referências bibliográficas, isso acontece por uma complexa combinação de circunstâncias:
1. O Salazar era muito conservador e o Franco "desenvolvimentista" (veja-se o exemplo de Palma de Maiorca e de Bilbau de hoje, que foram na altura de Franco estrategicamente definidas como áreas de desenvolvimento turístico e industrial, respectivamente). Em particular refere que Salazar não gostava do risco e condicionou a industrialização.
2. Na altura da transição para as democracias os dois países passaram por experiências muito distintas.
A Espanha conseguiu "pela única vez na sua história" consenso entre diferentes partes e a classe média espanhola (30% da população era constituída por pequenos e médios empresários) encarou a transição como uma oportunidade. Também a classe "operária" viu aqui uma possibilidade de ascenção. Foram estas pequenas empresas que protagonizaram grande parte do desenvolvimento económico espanhol.
Segundo o autor e as suas fontes, em Portugal a transição foi mais polarizada, conduzindo à anulação do empresariado e à "sacralização do espírito do funcionário". Tudo o que é público é positivo e a iniciativa privada é encarada como negativa. O autor refere que "foi nesta altura que se gerou uma mentalidade de conformismo nos portugueses, isto é, acontecesse o que acontecesse o estado providenciaria."
De referir que a estrutura de classes no país era também muito polarizada - as "famílias" e elites a concentrar a riqueza e a maioria da população na pobreza, sem grande vislubre de futuro.
Por esta altura Portugal estava também a ser expulso de Angola, Moçambique, Guiné e Cabo Verde e naturalmente sofreu com o corte dos recursos que dai vinham e com os "retornados" que voltavam a casa para começar do zero.
Voltarei a algumas ideias deste livro mais tarde...
In the country of last things
Paul Auster é um autor que me marcou pela sua crueza e sensibilidade simultâneas. Pelo facto de olhar para si e para os outros com a lupa do realismo. Este ano, que recebeu o prémio Letras Principe de Astúrias, queria prestar-lhe uma espécie de homenagem com uma citação de um livro que gostei muito: 'In the country of last things'.
"so many of us have become like children again. It's not that we make an effort, you understand, or that anyone is really conscious of it. But when hope disappears, when you find that you have given up hoping even for the possibility of hope, you tend to fill the empty spaces with dreams, little childlike thoughts and stories to keep yourself going"
"so many of us have become like children again. It's not that we make an effort, you understand, or that anyone is really conscious of it. But when hope disappears, when you find that you have given up hoping even for the possibility of hope, you tend to fill the empty spaces with dreams, little childlike thoughts and stories to keep yourself going"
A origem da lingua castelhana
O espanhol como língua materna será o terceiro idioma mais falado no mundo em 2050, na frente do inglês e atrás apenas do mandarim e do híndi, devido ao peso demográfico da China e da Índia, segundo estimativas de evolução linguística recentes.
Em Espanha vivem apenas 10% dos hispanoparlantes do mundo, cifrados entre 400 milhões e 428 milhões de pessoas.
Esta imagem foi tirada nos Mosteiros de Yuso e de Suso, onde terá nascido o castelhano. Reza a história que no Mosteiro de Suso, algures em 997, um monge anónimo atreveu-se a interpretar um texto em latim e a fazer anotações escritas na língua que ele e os seus conterrâneos usavam...
Tenho medo de ser do tamanho do que vejo
"Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura..."
Alberto Caeiro
Gosto muito desta frase embora ache que às vezes quando me sinto do tamanho do que vejo e não da minha altura acabo por me sentir a viver nas nuvens...
(imagem de Angola tirada pelo Nuno)
13 November 2006
A Saúde em Espanha: o que podemos aprender?
A semana passada, por valente azar, tive que experimentar o serviço de saúde espanhol. Não como paciente mas como assustada espectadora. Fiquei absolutamente impressionada com a rapidez e eficácia do sistema. Depois de uma chamada do 112 rapidamente atendida com aconselhamento directo pelo médico, foi necessário que uma equipa se deslocasse aqui a casa. Como a situação estava já controlada a médica disse que iria demorar um pouco: em cerca de meia hora chegou acompanhada de uma enfermeira. Depois de alguns testes básicos e um diagnóstico normal acharam, no entanto, que seria mais prudente que houvesse um atendimento directo nas urgências. Chamaram uma ambulância através do 112. Em menos de 15 minutos chegou a dita. Depois da entrada nas urgências fui remetida à sala de espera, onde aguardei calmamente (mais ou menos...) que me chamassem para me dar novidades, como me tinham explicado que fariam quando fiz o registo do paciente. Ao fim de algum tempo a médica chamou-me para explicar o que se estava a passar. Depois do período inicial de exames, já na fase de "observações", voltei a ser chamada e pude entrar alguns minutos. As salas de observações são locais calmos, onde os doentes estão instalados com comodidade e com alguma privacidade. Todos os exames foram efectuados e o diagnóstico bom. Voltamos a casa. Não pagamos um único cêntimo por nada.
Nas regulares consultas médicas no centro de saúde é igual. Marcam-se para a mesma semana, não é preciso esperar no "guichet" para dar entrada ou pagar, entra-se directamente para a sala de espera e é-se chamado na hora marcada.
A saúde em Espanha tem destas coisas inacreditáveis: não pagam (mais do que nos impostos) e ainda por cima funciona! Como conseguirão?
E não creiam que este é um comentário de uma inexperiente no sistema de saúde português: eu vou militantemente ao centro de saúde (onde uso o "livro amarelo" sempre que necessário) e infelizmente conheço bem alguns hospitais desde as urgências às UCI... Só vos digo: a saúde em Portugal precisa de ir ao médico! (mas aqui em Espanha, senão...)
Nas regulares consultas médicas no centro de saúde é igual. Marcam-se para a mesma semana, não é preciso esperar no "guichet" para dar entrada ou pagar, entra-se directamente para a sala de espera e é-se chamado na hora marcada.
A saúde em Espanha tem destas coisas inacreditáveis: não pagam (mais do que nos impostos) e ainda por cima funciona! Como conseguirão?
E não creiam que este é um comentário de uma inexperiente no sistema de saúde português: eu vou militantemente ao centro de saúde (onde uso o "livro amarelo" sempre que necessário) e infelizmente conheço bem alguns hospitais desde as urgências às UCI... Só vos digo: a saúde em Portugal precisa de ir ao médico! (mas aqui em Espanha, senão...)
Espanha a saque ou o cancro da segunda habitação
Eu tenho tido sempre uma posição muito crítica em relação a Portugal e mais benevolente em relação ao que vejo por cá em terras hispânicas ao ponto de às vezes me questionar se estarei deslumbrada. Mas não, não estou.
Se há aspectos que verdadeiramente me impressionam pela sua eficiência, por exemplo a saúde, há outras questões que são um verdadeiro buraco negro. Uma delas é a questão da construção e da corrupção imobiliária quase instituída.
Todos os anos se constroem, em Espanha, 800 mil casas, um valor superior à soma da edificação em Inglaterra, Alemanha e Itália. E isto porque 1997 com a revisão da Lei do Solo considerou-se que todo o solo rústico era susceptível de ser urbanizado. Ou seja, que milhões de hectares passavam a estar disponíveis. Logicamente os municípios viram nisto uma oportunidade de gerar receitas e foi assim que, em poucos anos a superfície edificada aumentou 40 por cento. A somar a isto são admitidos os acordos urbanísticos, um mecanismo legal através do qual um promotor com solo não apto para a construção pode negociar com a câmara a reclassificação dos terrenos e o volume de construção se paga uma compensação. Tudo passou a ser permitido.
O cenário é concluído com um último dado: o investimento imobiliário é utilizado como refúgio do "dinheiro negro" de várias procedências. Em Espanha, constata o Banco central, circulam um terço das notas de 500 euros da União Europeia, e é admitido que cerca de 25 por cento do PIB corresponde à "economia submersa". Ou seja, que escapa à tributação e encontra investimento - "lavagem"- no sector imobiliário. Nas áreas de influência das grandes cidades existem 1,29 milhões de casas vazias e nas províncias costeiras são perto de 639 mil as residências não ocupadas. Estes são só alguns factos e números da calamidade.
Mas nem tudo é assim tão mau
Este fim de semana - em que estive pela Costa Branca (Valência e Alicante) - li no El País com contentamento que o Tribunal Superior de Justiça valenciano advertia que "La urbanización de millones de metros cuadrados de suelo al margen de los planes generales de ordenación urbana no es compatible con un desarrollo sostenible" ao mesmo tempo que paralisava um plano urbanistico em Parcent, uma localidade alicantina onde vivem 1.000 pessoas e onde estava projectada a construção de um mínimo de 1.500 novas casas. Pelo menos a justiça vai funcionando e a obra foi condenada antes de ser iniciada...
Os meus óculos-filtro de turista
Ao olhar à minha volta quando se passa na maior parte das áreas das províncias de Valência e Alicante é que há ali um cancro cavalgante. A sério. É impressionante como as casas trepam pelas encostas das montanhas, caem até aos limites das escarpas. E apesar do caos já dominante é ainda mais surpreendente a concentração de guindastes que se pode ver em cada quadrado de 100m de lado. Ou seja, a grande obra continua e todo o cenário é complementado com prolíferos cartazes em inglês e alemão que anúnciam as melhores casas em Espanha, em cenários idílicos... E vivam todos os Benidorm desta costa!
Na imagem: A mancha verde lá atrás já não existe. Agora vêem-se bandas imensas de moradias.
Se há aspectos que verdadeiramente me impressionam pela sua eficiência, por exemplo a saúde, há outras questões que são um verdadeiro buraco negro. Uma delas é a questão da construção e da corrupção imobiliária quase instituída.
Todos os anos se constroem, em Espanha, 800 mil casas, um valor superior à soma da edificação em Inglaterra, Alemanha e Itália. E isto porque 1997 com a revisão da Lei do Solo considerou-se que todo o solo rústico era susceptível de ser urbanizado. Ou seja, que milhões de hectares passavam a estar disponíveis. Logicamente os municípios viram nisto uma oportunidade de gerar receitas e foi assim que, em poucos anos a superfície edificada aumentou 40 por cento. A somar a isto são admitidos os acordos urbanísticos, um mecanismo legal através do qual um promotor com solo não apto para a construção pode negociar com a câmara a reclassificação dos terrenos e o volume de construção se paga uma compensação. Tudo passou a ser permitido.
O cenário é concluído com um último dado: o investimento imobiliário é utilizado como refúgio do "dinheiro negro" de várias procedências. Em Espanha, constata o Banco central, circulam um terço das notas de 500 euros da União Europeia, e é admitido que cerca de 25 por cento do PIB corresponde à "economia submersa". Ou seja, que escapa à tributação e encontra investimento - "lavagem"- no sector imobiliário. Nas áreas de influência das grandes cidades existem 1,29 milhões de casas vazias e nas províncias costeiras são perto de 639 mil as residências não ocupadas. Estes são só alguns factos e números da calamidade.
Mas nem tudo é assim tão mau
Este fim de semana - em que estive pela Costa Branca (Valência e Alicante) - li no El País com contentamento que o Tribunal Superior de Justiça valenciano advertia que "La urbanización de millones de metros cuadrados de suelo al margen de los planes generales de ordenación urbana no es compatible con un desarrollo sostenible" ao mesmo tempo que paralisava um plano urbanistico em Parcent, uma localidade alicantina onde vivem 1.000 pessoas e onde estava projectada a construção de um mínimo de 1.500 novas casas. Pelo menos a justiça vai funcionando e a obra foi condenada antes de ser iniciada...
Os meus óculos-filtro de turista
Ao olhar à minha volta quando se passa na maior parte das áreas das províncias de Valência e Alicante é que há ali um cancro cavalgante. A sério. É impressionante como as casas trepam pelas encostas das montanhas, caem até aos limites das escarpas. E apesar do caos já dominante é ainda mais surpreendente a concentração de guindastes que se pode ver em cada quadrado de 100m de lado. Ou seja, a grande obra continua e todo o cenário é complementado com prolíferos cartazes em inglês e alemão que anúnciam as melhores casas em Espanha, em cenários idílicos... E vivam todos os Benidorm desta costa!
Na imagem: A mancha verde lá atrás já não existe. Agora vêem-se bandas imensas de moradias.
Será que o meu dinheiro tem ido para aqui?
Esta é uma espécie de continuação de um post anterior no qual eu perguntava "Para onde vai o meu dinheiro?". Encontrei a informação seguinte num artigo publicado esta semana no Diário Económico sobre a situação da corrupção em Portugal e deitei-me a pensar: "será que...?". Escusado será dizer que tive pesadelos.
"Entre Janeiro de 2005 e Outubro deste ano, o Ministério Público abriu mais de oito mil inquéritos relativos a indícios de fraudes, corrupção, branqueamento de capitais, crimes fiscais e infracções de tecnologias informáticas. Os fundos movimentados pela economia paralela poderão envolver cerca de 9% do PIB.
A média é de 13 inquéritos por dia, incluindo fins-de-semana, feriados e dias santos. No relatório de segurança interna de 2005 há uma referência, com origem nos Serviços de Informações da República, segundo a qual a criminalidade económica e financeira se “consolidou” em Portugal."
"(…) Dos inquéritos em investigação na PJ, mais de 42% dizem respeito a indícios de corrupção na Administração Local. Este parece ser o campo por excelência da promiscuidade entre partidos e dirigentes políticos, urbanismo, negócios imobiliários e campanhas eleitorais. Em Agosto de 2005, o vice-presidente da Câmara do Porto, Paulo Morais, declarou que o urbanismo é, em grande número de câmaras, “a forma mais encapotada e sub-reptícia de transferir bens públicos para a mão de privados”. Paulo Morais não entrou na lista seguinte para a Câmara do Porto."
"(…) O director de programas mundiais do Banco Mundial, Daniel Kaufman, defendeu em Setembro do ano passado que o desenvolvimento português tem vindo a ser travado pela corrupção e que, controlando a corrupção, Portugal podia estar ao nível de desenvolvimento da Finlândia, o país europeu com maior nível de confiança nas instituições. Mas a corrupção e demais criminalidade económica e financeira, ao que tudo indica, tem andado fora de controlo."
http://diarioeconomico.sapo.pt
6 November 2006
Alerta: mergulhar (na informação) pode danificar os nervos
Esta última semana estive a trabalhar em conteúdos para uma exposição sobre água. O objectivo era mostrar ao visitante deste espaço como a sua região é rica em valores naturais, culturais, patrimoniais e como a água tem desempenhado ao longo da história um papel fundamental na origem e manutenção desses valores. Isso enquadra depois o resto do conteúdo sobre uma empresa que trata água para abastecimento e recolhe e trata esgotos. A propósito disto tive que fazer uma extensa pesquisa de dados... E é sobre isso que queria partilhar algumas linhas.
Encontrar dados fiáveis sobre o que quer que seja em Portugal é muito complicado. Se consultar três fontes distintas e expectavelmente "de confiança" para o cidadão, por exemplo a página na internet de uma autarquia, da região de turismo e do instituto de conservação da natureza, podem sair dados tão díspares e difíceis de verificar que torna a missão de juntar informação quase impossível. E não estou a falar de informação "reservada"...
Eu precisei do triplo do tempo razoavelmente necessário para escrever o conteúdo porque precisei de fazer confirmações e contra-testes a essas confirmações numa base horária. Sim, porque a cada hora - enquanto tentava tratar os dados para depois começar a escrever - estava a descobrir algo de novo! Mesmo dentro dos dados de uma única entidade - mas em fontes documentais diferentes - podemos encontrar números flagrantemente díspares.
Só posso concluir uma de duas coisas: ou no nosso país as pessoas que dizem que a matemática é um "bicho de sete cabeças" para a maioria têm muita razão ou os números em Portugal têm a grande facilidade de ser "contorsionistas": ora esticam para um lado, ora para o outro, ora para lado nenhum.
Mas o que mais me choca de tudo é a total e absoluta falta de coordenação e desconhecimento mútuo dos "achados e feitos" das várias entidades e muito particularmente a pobreza generalizada da informação nas páginas municipais.
Uma autarquia que se preze deveria manter actualizados os valores municipais e os projectos na área do ambiente, turismo, sociedade. Esses dados são essenciais para a valorização dos territórios, quanto mais não seja para a promoção turística. É importante dizer se o município está integrado numa rede natura 2000 ou numa área protegida, se tem imóveis de interesse público classificados (além das habituais igrejas, ermidas e pelourinhos...), que actividades de lazer e cultura são oferecidas, entre muitas outras informações úteis a residentes e visitantes que agora não vou enumerar porque o texto já vai muito longo...
Para não multiplicar esforços, assumindo que existem entidades supramunicipais ou regionais com competências específicas em certas áreas (por exemplo, o turismo) pelo menos deveriam as páginas municipais sistematicamente encaminhar para essas entidades. Já que em Portugal os municípios de associam aparentemente 'livre e caoticamente' para dar resposta a diferentes reptos, um determinado municipio X deveria informar os seus munícipes que para tratar questões da água estou com estes, para tratar dos resíduos estou com aqueles, para o turismo com aqueloutros e por ai adiante. Fica a sugestão, se valer.
Encontrar dados fiáveis sobre o que quer que seja em Portugal é muito complicado. Se consultar três fontes distintas e expectavelmente "de confiança" para o cidadão, por exemplo a página na internet de uma autarquia, da região de turismo e do instituto de conservação da natureza, podem sair dados tão díspares e difíceis de verificar que torna a missão de juntar informação quase impossível. E não estou a falar de informação "reservada"...
Eu precisei do triplo do tempo razoavelmente necessário para escrever o conteúdo porque precisei de fazer confirmações e contra-testes a essas confirmações numa base horária. Sim, porque a cada hora - enquanto tentava tratar os dados para depois começar a escrever - estava a descobrir algo de novo! Mesmo dentro dos dados de uma única entidade - mas em fontes documentais diferentes - podemos encontrar números flagrantemente díspares.
Só posso concluir uma de duas coisas: ou no nosso país as pessoas que dizem que a matemática é um "bicho de sete cabeças" para a maioria têm muita razão ou os números em Portugal têm a grande facilidade de ser "contorsionistas": ora esticam para um lado, ora para o outro, ora para lado nenhum.
Mas o que mais me choca de tudo é a total e absoluta falta de coordenação e desconhecimento mútuo dos "achados e feitos" das várias entidades e muito particularmente a pobreza generalizada da informação nas páginas municipais.
Uma autarquia que se preze deveria manter actualizados os valores municipais e os projectos na área do ambiente, turismo, sociedade. Esses dados são essenciais para a valorização dos territórios, quanto mais não seja para a promoção turística. É importante dizer se o município está integrado numa rede natura 2000 ou numa área protegida, se tem imóveis de interesse público classificados (além das habituais igrejas, ermidas e pelourinhos...), que actividades de lazer e cultura são oferecidas, entre muitas outras informações úteis a residentes e visitantes que agora não vou enumerar porque o texto já vai muito longo...
Para não multiplicar esforços, assumindo que existem entidades supramunicipais ou regionais com competências específicas em certas áreas (por exemplo, o turismo) pelo menos deveriam as páginas municipais sistematicamente encaminhar para essas entidades. Já que em Portugal os municípios de associam aparentemente 'livre e caoticamente' para dar resposta a diferentes reptos, um determinado municipio X deveria informar os seus munícipes que para tratar questões da água estou com estes, para tratar dos resíduos estou com aqueles, para o turismo com aqueloutros e por ai adiante. Fica a sugestão, se valer.
5 November 2006
Chegou o frio, o vento, a chuva e um airo
Ontem foi aquele dia do ano em que sentimos que o tempo mudou. Até agora, apesar de uns dias já terem estado mais frescos e já ter chovido, ainda não se tinha sentido realmente o Outono. As folhas de todas as cores das caducifólias e dos vinhedos e a lindíssima luz outonal eram realmente os únicos sinais...
O ponto de viragem de ontem foi muito evidente - as folhas começaram a cair em massa e o vento - mais intenso - mantém-nas a planar e a rodopiar à nossa frente. Sente-se já aquele friozinho cortante da montanha a querer penetrar por todas as falhas e poros da nossa roupa e o cinzento domina o dia.
Esta manhã, ao fazer a habitual cainhada de domingo ao lado do Ebro, além dos patos, do galeirão, do mergulhão, das garças reais, dos corvos marinhos (naquela típica postura de asas abertas que me faz sempre lembrar os exibicionistas de rua!) e de uma ou duas cegonhas que se inibiram de migrar para o sul, estava uma ave de aspecto raro para aquele habitat. Depois de olhar e re-olhar identificamos um airo (Uria aalgae). Esta ave marinha tão parecida com um pinguím à qual os islandeses chamam um petisco!
Foi mais uma surpresa que o Ebro nos trouxe...
3 November 2006
Un mar de fueguitos...
Esta manhã acordei com esta história muito acesa na minha cabeça. Não sei bem porquê, talvez por ter passado a noite meia acordada depois de um chá vermelho mesmo antes de me deitar...
E está tão forte no meu consciente que preciso de a partilhar.
"Un hombre del pueblo de Neguá, en la costa de Colombia, pudo subir al alto cielo. A la vuelta, contó. Dijo que había contemplado, desde allá arriba, la vida humana. Y dijo que somos un mar de fueguitos.
- El mundo es eso - reveló. Un montón de gente, un mar de fueguitos.
Cada persona brilla con luz própria entre todas las demás. No hay dos fuegos iguales. Hay fuegos grandes y fuegos chicos y fuegos de todos los colores. Hay gente de fuego sereno, que ni se entera del viento, y gente de fuego loco, que llena el aire de chispas. Algunos fuegos, fuegos bobos, no alumbran ni queman; pero otros arden la vida con tantas ganas que no se pueden mirarlos sin parpadear, y quien se acerca, se enciende".
O texto é do autor uruguaio Eduardo Galeano e foi retirado do livro "El libro de los abrazos", que é simplesmente fantástico.
E está tão forte no meu consciente que preciso de a partilhar.
"Un hombre del pueblo de Neguá, en la costa de Colombia, pudo subir al alto cielo. A la vuelta, contó. Dijo que había contemplado, desde allá arriba, la vida humana. Y dijo que somos un mar de fueguitos.
- El mundo es eso - reveló. Un montón de gente, un mar de fueguitos.
Cada persona brilla con luz própria entre todas las demás. No hay dos fuegos iguales. Hay fuegos grandes y fuegos chicos y fuegos de todos los colores. Hay gente de fuego sereno, que ni se entera del viento, y gente de fuego loco, que llena el aire de chispas. Algunos fuegos, fuegos bobos, no alumbran ni queman; pero otros arden la vida con tantas ganas que no se pueden mirarlos sin parpadear, y quien se acerca, se enciende".
O texto é do autor uruguaio Eduardo Galeano e foi retirado do livro "El libro de los abrazos", que é simplesmente fantástico.
O fiel jardineiro
Hoje estive numa conferência Internacional aqui em Logroño – II Foro Mundial de Urbanismo de Pequenas y Medianas Ciudades-Región (para quem quiser saber mais está em http://www.territorios21.com/) e no meio do habitual desfilar de “especialistas” engravatados com os seus mais ou menos intragáveis mapas, esquemas de letra ilegível e apresentações feitas à última da hora, saiu algo novo. Uma pessoa que se afirma “ser jardineiro” mais do que qualquer outra coisa e que “ainda espera vir a ser agricultor”. Convém dizer que este senhor – Fernando Caruncho – é um paisagista com 30 anos de experiência e tem mais de uma centena de projectos em todo o mundo, entre os quais o Jardim Botânico de Madrid, e ainda uma lista de publicações de fazer inveja a qualquer catedrático.
E este “fiel jardineiro” não levou apresentações, nem gráficos, nem imagens, nem esquemas. Levou uma mensagem. Clara, curta e gritante: hoje em dia a cidade constrói-se em cima do campo, da paisagem agrícola. Também em cima da floresta mas acima de tudo da paisagem agrícola. E ao destruirmos a paisagem agrícola estamos a destruir a nossa memória. Hoje em dia quem toma decisões tem muito pouco respeito pelo “campo” – pouco respeito estético, ambiental e acima de tudo moral. Aos agricultores devemos muito, pois eles garantem, no limite, o nosso sustento económico e também espiritual. Como dizia Confúcio “compro arroz para viver e flores para ter uma razão pela qual viver”…
E há coisas que alguns decisores políticos deveriam escutar com atenção para ver se além de governar para comer encontram alguma razão decente pela qual governar.
E este “fiel jardineiro” não levou apresentações, nem gráficos, nem imagens, nem esquemas. Levou uma mensagem. Clara, curta e gritante: hoje em dia a cidade constrói-se em cima do campo, da paisagem agrícola. Também em cima da floresta mas acima de tudo da paisagem agrícola. E ao destruirmos a paisagem agrícola estamos a destruir a nossa memória. Hoje em dia quem toma decisões tem muito pouco respeito pelo “campo” – pouco respeito estético, ambiental e acima de tudo moral. Aos agricultores devemos muito, pois eles garantem, no limite, o nosso sustento económico e também espiritual. Como dizia Confúcio “compro arroz para viver e flores para ter uma razão pela qual viver”…
E há coisas que alguns decisores políticos deveriam escutar com atenção para ver se além de governar para comer encontram alguma razão decente pela qual governar.
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