17 October 2006

O que é feito do meu dinheiro?

Ontem, numa estadia de uma hora na Biblioteca Municipal, dediquei-me com atenção ao Relatório de Desenvolvimento Humano de 2005 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Claro está, fui em busca do lugar de Portugal no índice de desenvolvimento humano (IDH)* e ainda de alguns outros indicadores.
Decidi fazer alguma comparação de realidades - uma que conheço bem e outra que estou a começar a conhecer - tomando nota de alguns números de Portugal e Espanha.
E ao fazer este exercício não pude deixar de me questionar o que é feito do meu dinheiro, aquele que dou às bateladas ao Estado Português?
Ok, vejam alguns números e depois por favor ajudem-se a ver se estarei errada:
- Portugal ocupa o 27º lugar do IDH e Espanha está em 21º. E isso acontece essencialmente porque em Espanha se produz mais (22.391$ versus 18.126$ em PIB per capita), se esperam viver mais anos à nascença (79,5 vs. 79,2 anos), se está mais alfabetizado (97,7% da população vs. os 92,5% em Portugal). No outro indicador que entra para o cálculo deste índice - uma combinação das matriculas em vários níveis de ensino básico - estamos quites (94%).
Até aqui ainda vá, mas... olhem para as prioridades do gasto público:
- Portugal gasta 5,8% do seu orçamento em educação, 6,6% em saúde e 2, 1% em despesas militares. Espanha gasta respectivamente, 4,5%, 5,4% e 1,2%. Gasta percentualmente menos em tudo. E tem mais resultados.
Olhando somente para a Saúde: com o investimento realizado anualmente por Portugal esperar-se-ia que o nosso sistema nos desse um pouco mais. Olhando somente para estatísticas, por exemplo, Espanha tem 320 médicos por cada 100.000 habitantes e Portugal tem somente mais 4... Além disso, em Portugal pagamos taxas moderadoras para tudo - nos centros de saúde, nas urgências, ao fazer exames médicos... Em Espanha um cidadão não tem qualquer custo extra quando frequenta qualquer instituição do sector. O que estaremos a fazer mal em Portugal?
- E porque gasta Portugal (números de 2003) o equivalente a 2,1% do seu PIB em despesas militares? Por favor expliquem-me senão o momento de acertar contas com o Estado vai ser cada vez mais difícil de suportar.

*Mais info em: http://hdr.undp.org/

4 comments:

Felgueiras ý Alão said...

Relativamente à questão levantada " Para onde vai o meu dinheiro?",
verifico que questionas 3 áreas de investimento: educação, saúde e
militar. Começando pela última estou plenamente de acordo contigo.
Não somos um país belicista
Na saúde não tenho dados suficientes para ter uma opinião fundamentada.
Mas relativamente à educação, gostaria que lesses os números com mais
cuidado. Repara: olhando para a percentagem do PIB gastamos 5.8% em
2000-02. Cerca de 80% desse orçamento vai para ordenados dos funcionários.
Não serão precisos? Deixemos as escolas sem professores! São altos?!
1000-1250 euros em média é alto???? Bom, penso que não! Será que a
subida de 1,8% na percentagem do PIB desde 1990 a 2000-02 terá sido
suficiente para preparar convenientemente as escolas e vencer os atrasos
de décadas?! Se calhar não e talvez tenha sido mal planeado. Em 90
investíamos menos que os espanhóis na educação.
Continuando... Repara agora como os números mostram bem o nosso problema
estrutural : em 90 investíamos 44.6% no primário e os espanhóis só 29.3%!
Vês o nosso atraso! Quando eles já só investem aquele valor nós temos
que fazer um esforço ciclópico para responder a uma massificação brutal
do ensino após 16 anos do 25 de Abril: escolas, primáris preparatórias,
equipamentos etc.O País nada tinha. Em 2000 já só investíamos 36.9%
(repara a diminuição de alunos) e os espanhóis continuaram a a investir
neste patamar: 35.8%!
Teriam mais alunos? Duvido! Consolidaram e reforçaram a escola ? Talvez! Nós
continuamos a navegar no economicismo ( não há mais escolas não há investimento
aumentando o cancro estrutural de base:
a falta de consolidação pedagógica na escola, a verdadeira aposta na formação
contínua de professores, gestores, profissionais do ensino!
O mesmo se passa com o secundário: começamos com 32.5% (repara que nos anos noventa
começa a massificação do secundário, muitos alunos, novas escolas,
equipamentos para o País todo )os espanhóis já lá estavam há muito com 45.0%.
Nós até 2000 temos que investir ( aumenta para 42.2%) e eles consolidam a 41.4%.
Mas o investimento é sempre físico e nunca , como expliquei à pouco, pedagógico,
didático, formativo, um verdadeiro ensino, no fundo a consolidação que se vê
nos números espanhóis.
No superior nem falo pois em 12 anos houve um aumento de 0.9%, o que é ridiculo.
Estes são, na minha opinião, os números reais da educação do nosso País, sem
intoxicações ou manipulações para culpar aquele ou aquela.

Em relação ao dinheiro dos teus impostos acho que deverias virar as baterias para
quem construiu estádios megalómanos, câmaras municipais faustosas, empresas municipais
corruptas, aeroportos, auto-estradas ao lado de auto-estradas, pessoas subsídio-dependentes
e como deves imaginar mil e outras coisas ... .

m:p said...

Agradeço a análise, que ganha muito com a perspectiva de um professor.
Realmente não tenho dúvidas que há coisas bem mais preocupantes como os estádios e outros que referiste, mas na minha opinião o mais grave de tudo é a total falta de coordenação entre tudo o que se faz, seja na saúde, educação, desporto, ambiente e outras áreas fundamentais e mesmo nas outras menos importantes.Por isso peguei em alguns números, para tentar defender a minha tese que com menos (relativamente) se pode fazer MUITO mais... A nós portugueses parece-me que nos tem faltado um bocadinho mais de coordenação, visão, integração que aos espanhóis. Só isso...

m:p said...

Queria acrescentar ainda uma coisinha... Os indicadores e índices do relatório do PNUD não contabilizam a Felicidade Interna Bruta (FIB) ou Gross National Happiness (GNH). Este novo conceito de desenvolvimento social foi criado por um grupo de economistas do Butão e tenta ir além dos indicadores mais economicistas a que estamos habituados. Há mesmo uma página web sobre o tema
http://www.grossinternationalhappiness.org/
Onde estaria portugal no ranking desse indicador?

m:p said...

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*Os **PROFESSORES* *em Portugal não são assim tão maus...*

Consulte a última versão (2006) do Education at a Glance, publicado pela OCDE. Em http://www.oecd.org/dataoecd/44/35/37376068.pdf

Se for à *página 58*, verá desmontada a convicção generalizada de que os professores portugueses passam pouco tempo na escola e que no estrangeiro não é assim. É apresentado no estudo o tempo de permanência na escola, onde os professores portugueses estão em 14º lugar (em 28 países), com tempos de permanência superiores aos japoneses, húngaros, coreanos, espanhóis, gregos, italianos, finlandeses, austríacos, franceses, dinamarqueses, luxemburgueses, checos, islandeses e noruegueses!

No mesmo documento de 2006 poderá verificar, na *página 56*, que os professores portugueses estão em 21º lugar (em 31 países) quanto a salários!

Na *página 32* poderá verificar que, quanto a investimento na educação em relação ao PIB, estamos num modesto 19º lugar (em 31 países) e que estamos em 23º lugar (em 31 países) quanto ao investimento por aluno.