9 March 2007

Uma verdade (mesmo muito) inconveniente

Vi o filme-documentário de Al Gore no dia da sua estreia em Portugal, há já uns meses. Voltei a vê-lo esta semana porque o repuseram, suponho que a propósito de ter sido reconhecido com a estatueta dourada de Hollywood. Tenho que dizer desde já que ouvir o Al Gore a falar em castelhano tem sempre o seu lado deprimente (por favor Espanha, deixa de dobrar os filmes!).
A primeira vez que vi o filme apanhei a mensagem global. Desta vez detive-me em alguns detalhes (não é sempre assim?). Continuo a reconhecer o grande valor pedagógico do filme. Isso ninguém pode tirar a Al Gore. O simples facto de através de explicações simples relacionar um conjunto de factores que na prática constituem uma teia de enorme complexidade, é um ponto favorável ao ex-próximo presidente dos estados unidos.
Por coincidência ou não, esta manhã recebo uma mensagem no meu mail que diz que segundo o Tenesee Center for Policy Research a maior mansão de Gore (às quais soma mais duas) localizada em Nashville, consome mais de 20 vezes electricidade que a média nacional americana. Primeira pergunta que me vem à cebeça: será que é uma informação que tem como objectivo único descredibilizar o "pastor do clima"? A seguir vêm as outras perguntas: Será mesmo verdade? E se for?
Não gosto de fazer avaliações precipitadas e acima de tudo injustas e, numa época em que não sabemos se estamos a ser informados ou manipulados, opto por ser extremamente céptica em relação a todas as fontes.
Mas será pior um Al Gore que asume uma posição de "pastor do clima" que também comete pecados mas que ainda acredita na reconversão das massas que um James Lovelock (autor da Teoria de Gaia e do recente livro "The Revenge of Gaia") que já nos faz antever a tostar nas chamas do inferno caso não se invista a sério na energia nuclear?
É verdade que nos detalhes de "Uma Verdade Inconveniente" que guardei na memória destacou-se o facto de que quase todos os "separadores" da conferência que Gore dá no filme, marcados pelas declarações pessoais, se passam em carros ou em aeroportos... Não acho que possa atirar "pedras" a Al Gore, quantos de nós poderão? Mas essas imagens marcam um statement: Al Gore parece acreditar que podemos manter o actual estilo de vida desde que compremos um carro híbrido ou instalemos lâmpadas de baixo consumo em casa. Mas será que o caminho actual para resolver o aquecimento global do planeta passa na realidade pelas lâmpadas que usamos na nossa casa?
É já reconhecido que para que as nossas sociedades se tornem mais eficientes/sustentáveis precisamos de reduzir o nosso consumo de recursos naturais e a produção de poluição em 90% ("factor 10") e isso custará alterações profundas na nossa forma de estar e acima de tudo implicará transformar a economia (ver este livro incontornável sobre o tema!). Ora bem, como eu vejo as coisas, a energia está na base de tudo o que "é" a nossa sociedadeeconomia (a fusão é intencional) actuais. Será que a alteração não tem mesmo de ser mais profunda desde já? Não andaremos a tentar curar uma perna partida com um penso rápido? E claro, neste contexto Al Gore é o vendedor de pensos rápidos.

3 comments:

Unknown said...

eu não gostei do filme precisamente por isso. a perspectiva política é completamente obliterada pelo aspecto "pedagógico" e as parcas conclusões que se podem tirar é que tudo se resolve individualmente. Não imaginas a discussão que isto já deu com uma amiga nossa...

m:p said...

Confesso que, como educadora ambiental, continuo a acreditar no poder de cada um. Mas há situações em que isso não chega. E creio que esta é uma delas...
Acho que consigo imaginar a discussão :)

Anonymous said...

Não me custa nada a crêr qualquer um dos dois cenários que colocas: que há interesses em descredibilizar o que Gore diz, por um lado, e que ele próprio não seja a pessoa mais coerente do mundo, por outro.
Uma coisa parece-me certa: tanto a nível individual como colectivo, somos nós os responsáveis - afinal nós é que elegemos os nossos líderes!